O verdadeiro alvo: a confiança. A biometria comportamental como escudo contra ataques a fornecedores.

O ataque hacker contra a Sinqia em 29 de agosto foi um alerta severo para o sistema financeiro. Embora não tenha derrubado bancos ou causado perdas imediatas aos correntistas, o incidente expôs uma fragilidade preocupante. Em poucos minutos, criminosos conseguiram desviar milhões de reais, explorando falhas na infraestrutura do Pix. Esse episódio, somado à tentativa de desvio de R$ 1 bilhão na C&M Software, revela uma nova estratégia dos ataques digitais: eles não visam mais apenas usuários finais, mas sim os fornecedores essenciais que conectam bancos e fintechs. O impacto é devastador: mesmo quando os clientes não são diretamente prejudicados, a percepção de vulnerabilidade abala a credibilidade de todo o ecossistema financeiro.

A Escalada das Fraudes Financeiras

A dimensão das fraudes financeiras é alarmante, tanto no mundo quanto aqui no Brasil. Estimativas da Nasdaq indicam que impressionantes US$ 3,1 trilhões em dinheiro de origem ilícita circularam pelo sistema financeiro em 2023, resultando em perdas globais de cerca de US$ 485,6 bilhões. No Brasil, a situação é ainda mais grave: 77% das instituições financeiras relatam um aumento nas tentativas de fraude, e 68% registram perdas crescentes com crimes financeiros, números que superam a média mundial, conforme pesquisas do Serasa e Febraban. Quase metade dos bancos brasileiros enfrenta prejuízos anuais na casa dos oito dígitos por conta de fraudes, e 46% já foram multados em valores semelhantes, o que destaca a urgência de estratégias mais eficazes para prevenir e combater esses crimes, segundo levantamento do Bacen.

Confiança: O Ativo Mais Valioso

Esses números confirmam que a verdadeira meta dos criminosos não é apenas o dinheiro, mas a confiança. Para o consumidor, pouco importa onde o ataque aconteceu – se foi em um banco, em uma fintech ou em um provedor terceirizado. O que ele percebe é que o sistema falhou. A consequência vai muito além da perda financeira: ela se traduz em menos uso dos canais digitais, na deterioração da reputação das instituições e em uma pressão regulatória mais rigorosa. Se as instituições financeiras não podem mais se proteger apenas dentro de suas próprias fronteiras, a solução precisa ser uma ação conjunta e coordenada.

A Resposta Coletiva: Biometria Comportamental

Diante desse cenário, a resposta precisa ser coletiva. Um estudo da BioCatch revela que 74% dos bancos brasileiros já utilizam a análise comportamental para combater crimes financeiros. Isso está em linha com a tendência global de fazer da biometria comportamental uma peça fundamental para a resiliência do sistema. Essa tecnologia inovadora consegue identificar padrões sutis no comportamento digital do usuário, detectando, por exemplo, contas “laranja” antes mesmo da primeira fraude. Ela também reconhece sinais de coerção ou manipulação remota de dispositivos em tempo real, protegendo os usuários. Instituições que investem nesse tipo de análise têm menos probabilidade de perder mais de US$ 10 milhões por ano em fraudes.

Visão Geral

Em um país onde 83% dos líderes financeiros reconhecem a conexão entre fraude, tráfico humano e terrorismo, e 89% pedem maior intervenção regulatória para conter a lavagem de dinheiro, a adoção de camadas proativas de proteção não é apenas uma vantagem competitiva, mas uma exigência para a sobrevivência. O ataque à Sinqia deixa claro que a responsabilidade pela proteção do sistema é compartilhada. Bancos, fintechs, provedores de tecnologia, reguladores e autoridades policiais precisam atuar em sincronia. A confiança é o pilar que sustenta o sistema financeiro e, uma vez abalada, exige um esforço muito maior para ser reconstruída. A biometria comportamental se firma como a ferramenta capaz de transformar essa responsabilidade compartilhada em uma resiliência robusta, protegendo não só o dinheiro, mas a própria credibilidade do ecossistema financeiro brasileiro.

(Diego Baldin é Engenheiro de Soluções Latam da BioCatch)

Créditos: Misto Brasil

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