O que é o “roubo de energia” e como ele ameaça a transição energética global Energia Limpa by Portal Meus Investimentos - 16 de maio de 2025 A corrida para instalar mais turbinas eólicas traz consigo uma nova disputa. À medida que os parques eólicos crescem em tamanho e número, alguns acabam afetando o desempenho de outros. A energia eólica offshore emergiu como uma das principais apostas para a descarbonização mundial, com parques cada vez maiores e mais ambiciosos. No entanto, um fenômeno pouco conhecido do público – o roubo de energia eólica – está se tornando um desafio técnico, econômico e diplomático. Este artigo explora como a competição por vento, recurso intangível mas vital, pode gerar conflitos internacionais e comprometer metas climáticas. O que é o “roubo de energia eólica”? O roubo de energia eólica, também chamado de “roubo de vento”, ocorre quando um parque eólico reduz a velocidade do vento que chega a outros parques localizados a jusante (na direção do fluxo de ar). Tecnicamente conhecido como efeito esteira (ou wake effect), esse fenômeno surge porque as turbinas convertem a energia cinética do vento em eletricidade, deixando atrás de si uma “sombra” de ar mais lento e turbulento. Em grandes parques offshore, como os do Mar do Norte, essa esteira pode se estender por mais de 100 km, especialmente em condições atmosféricas específicas. O resultado é uma queda na produção de energia dos parques afetados, que podem perder até 10% de sua capacidade prevista. Como o fenômeno acontece? Mecanismo físico: Ao girar, as pás das turbinas extraem energia do vento, reduzindo sua velocidade em até 40% imediatamente atrás do rotor. A turbulência gerada se propaga por dezenas de quilômetros, criando zonas de baixa produtividade para turbinas a jusante. Fatores agravantes: Tamanho das turbinas: Modelos modernos, com pás acima de 100 metros, amplificam o alcance das esteiras. Densidade dos parques: Regiões como o Mar Báltico e o Mar do Norte concentram centenas de turbinas, aumentando a sobreposição de efeitos. Condições meteorológicas: Ventos constantes e estáveis, típicos de zonas offshore, permitem que as esteiras se mantenham por mais tempo. Impactos atuais e futuros do “roubo de energia eólica” Econômicos Redução de receita: Perdas de 10% na produção representam prejuízos milionários, especialmente em parques com custos de instalação offshore elevados. Aumento de custos: Turbinas operando em condições subótimas exigem mais manutenção e têm vida útil reduzida. Ambientais Ineficiência energética: A necessidade de compensar perdas pode levar à construção de mais turbinas, aumentando o impacto ecológico marinho. Geopolíticos O roubo de energia eólica já provoca disputas entre países, como ilustram estes cenários: Caso Detalhes Mar do Norte (Europa) Parques britânicos, alemães e holandeses competem por vento, gerando tensões sobre quem “prioriza” áreas. Disputas transfronteiriças Um parque eólico no Reino Unido pode afetar a produção de um na Holanda, sem regulamentação clara para resolver o conflito. Litígios judiciais Desenvolvedores noruegueses e dinamarqueses já entraram em disputas legais por perdas financeiras atribuídas ao efeito esteira. “Não há precedentes legais para decidir quem é responsável quando o vento de um país ‘rouba’ energia de outro”, alerta Eirik Finserås, advogado especializado em energia eólica. O futuro dos conflitos internacionais A expansão acelerada da energia eólica offshore tende a transformar o roubo de energia eólica em uma questão crítica: Saturação de mares estratégicos: A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que a capacidade eólica offshore global chegará a 630 GW até 2050, com Europa e Ásia liderando. Regiões como o Mar da China Meridional e o Golfo do México podem replicar os conflitos hoje vistos no Mar do Norte. Falta de regulamentação internacional: Ao contrário de recursos como petróleo ou gás, o vento não é regulado por tratados multilaterais. Países sem acordos de cooperação podem entrar em disputas por zonas de vento privilegiadas. Tecnologia como arma geopolítica: Nações com modelos avançados de previsão de esteiras (como Holanda e Reino Unido) podem dominar o planejamento de parques, marginalizando países em desenvolvimento. Soluções para mitigar o “roubo de energia eólica” Tecnológicas Otimização de layouts: Simulações computacionais ajudam a posicionar turbinas para minimizar esteiras (ex.: disposição em padrões escalonados). Turbinas adaptativas: Sistemas que ajustam o ângulo das pás em tempo real, reduzindo a interferência no fluxo de ar. Diplomáticas Acordos regionais: A União Europeia discute diretrizes para tratar o vento como “recurso compartilhado”, inspirado em modelos de pesca e petróleo. Padronização de compensações: Propostas incluem pagamentos financeiros entre países cujos parques geram prejuízos cruzados. Estratégicas Zonas de exclusão: Delimitar áreas mínimas entre parques de diferentes países para reduzir sobreposição de esteiras. Investimento em pesquisas: Projetos como o liderado por Pablo Ouro (Universidade de Manchester) mapeiam efeitos esteira para subsidiar políticas públicas. Conclusão: Um desafio para a cooperação global O roubo de energia eólica é um paradoxo da transição energética: quanto mais países investem em fontes renováveis, maior o risco de conflitos por recursos antes ignorados. Para evitar que a corrida pelo vento se transforme em uma nova “guerra fria energética”, são urgentes: Cooperação técnica: Compartilhamento de dados e modelos de previsão entre nações. Inovação jurídica: Tratados internacionais que reconheçam o vento como recurso comum, sem donos, mas com responsabilidades compartilhadas. Enquanto o mundo depende cada vez mais do vento para combater as mudanças climáticas, o roubo de energia eólica lembra que nenhuma solução é simples – e que a colaboração é tão vital quanto a tecnologia. Veja tudo de ” O que é o “roubo de energia” e como ele ameaça a transição energética global ” em: Portal Energia Limpa. Compartilhe isso: Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela) Facebook Clique para compartilhar no X(abre em nova janela) 18+ Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela) WhatsApp Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela) Telegram Mais Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela) LinkedIn Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela) Tumblr Clique para imprimir(abre em nova janela) Imprimir Relacionado