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Margem Equatorial: Leilão de petróleo é um passo na contramão de um futuro sustentável

A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) concedeu novas áreas para exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas

O WWF-Brasil expressa profunda preocupação e veemente oposição ao leilão de blocos exploratórios de petróleo realizado hoje, 17 de junho. A iniciativa representa um desalinhamento com os compromissos climáticos assumidos pelo Brasil e revela uma visão ultrapassada de desenvolvimento, especialmente ao considerar áreas de elevada sensibilidade socioambiental, como a margem equatorial.

Entre as áreas ofertadas, estão 47 blocos offshore localizados na ecologicamente sensível bacia da Foz do Amazonas — uma das regiões mais biodiversas e frágeis do planeta. Muitos desses blocos, inclusive, apresentam sobreposição com áreas protegidas e territórios indígenas, o que acende um alerta adicional sobre os riscos e os conflitos jurídicos que podem ser gerados a partir desse processo.

A margem equatorial abriga ecossistemas insubstituíveis, incluindo vastas áreas de manguezais essenciais para a resiliência costeira, o sequestro de carbono e a proteção da fauna marinha. A dinâmica complexa das correntes na Foz do Amazonas amplia significativamente os riscos de vazamentos e compromete seriamente qualquer resposta a acidentes ambientais.

Essas preocupações já foram reconhecidas por órgãos técnicos, como o IBAMA, que, em pareceres anteriores, negou licenças com base na ausência de estudos ambientais robustos e na elevada vulnerabilidade do ecossistema marinho.

Para além dos impactos socioambientais, trata-se de uma decisão tecnicamente injustificável do ponto de vista econômico. De acordo com estudo recente, até 85% da extração de petróleo planejada pela Petrobras pode não ser lucrativa em um cenário de aquecimento limitado a 1,5°C. Os projetos mais arriscados, como os localizados na Margem Equatorial, só trariam retorno financeiro se o mundo ultrapassasse 2,4°C de aumento da temperatura — uma condição incompatível com os objetivos do Acordo de Paris. Em outras palavras, esses empreendimentos só seriam economicamente viáveis em um cenário de colapso climático.

Além disso, o leilão confronta diretamente os compromissos assumidos por todos os países, inclusive o Brasil, no Balanço Global do Acordo de Paris (Global Stocktake), que estabelece, no artigo 28(c), a necessidade urgente de avançar para uma transição energética que vá além dos combustíveis fósseis. Essa orientação global é reforçada por recomendações técnicas de referência, como as da Agência Internacional de Energia (IEA).

O discurso de que a exploração petrolífera traria desenvolvimento sustentável para comunidades costeiras também não se sustenta. A indústria do petróleo gera poucos empregos diretos, concentrando seus benefícios em segmentos específicos e frequentemente distantes das regiões impactadas. Já o potencial da Amazônia e do litoral norte do país reside em caminhos alternativos: investimento em bioeconomia, energias renováveis e infraestrutura verde, com geração de renda, inclusão social e valorização dos saberes tradicionais locais.

A situação se torna ainda mais preocupante diante da possível aprovação da chamada Licença Ambiental Especial, prevista no PL 2159/2021 — o “PL da destruição”. Essa medida poderia tornar todo o processo de licenciamento da exploração na margem equatorial passível de um trâmite simplificado, enfraquecendo ainda mais os mecanismos de proteção ambiental e ampliando os riscos de danos irreversíveis.

Vale lembrar que o Brasil já possui reservas de petróleo suficientes para atender à sua demanda interna para uma transição energética gradual. A insistência em abrir novas fronteiras exploratórias nos prende a um modelo fóssil ultrapassado, dificultando o avanço rumo a uma economia limpa e resiliente. A crise climática exige decisões corajosas e políticas públicas que apontem para o futuro, não para o passado.

A Petrobras, como empresa estratégica e com vasta capacidade técnica, tem um papel decisivo a cumprir neste processo. Espera-se que ela seja protagonista na construção de soluções sustentáveis, e não agente de retrocessos. Apostar em novos blocos de petróleo não apenas ameaça o meio ambiente e a segurança climática, mas também compromete a credibilidade internacional do Brasil, especialmente às vésperas da COP30, que será realizada no coração da Amazônia.

O futuro do Brasil não está na perpetuação da economia do petróleo, mas sim na corajosa e determinada transição para um modelo econômico resiliente, diversificado e, acima de tudo, sustentável.

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