Margem Equatorial: Leilão de petróleo é um passo na contramão de um futuro sustentável Política by Portal Meus Investimentos - 18 de junho de 2025 A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) concedeu novas áreas para exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas O WWF-Brasil expressa profunda preocupação e veemente oposição ao leilão de blocos exploratórios de petróleo realizado hoje, 17 de junho. A iniciativa representa um desalinhamento com os compromissos climáticos assumidos pelo Brasil e revela uma visão ultrapassada de desenvolvimento, especialmente ao considerar áreas de elevada sensibilidade socioambiental, como a margem equatorial. Entre as áreas ofertadas, estão 47 blocos offshore localizados na ecologicamente sensível bacia da Foz do Amazonas — uma das regiões mais biodiversas e frágeis do planeta. Muitos desses blocos, inclusive, apresentam sobreposição com áreas protegidas e territórios indígenas, o que acende um alerta adicional sobre os riscos e os conflitos jurídicos que podem ser gerados a partir desse processo. A margem equatorial abriga ecossistemas insubstituíveis, incluindo vastas áreas de manguezais essenciais para a resiliência costeira, o sequestro de carbono e a proteção da fauna marinha. A dinâmica complexa das correntes na Foz do Amazonas amplia significativamente os riscos de vazamentos e compromete seriamente qualquer resposta a acidentes ambientais. Essas preocupações já foram reconhecidas por órgãos técnicos, como o IBAMA, que, em pareceres anteriores, negou licenças com base na ausência de estudos ambientais robustos e na elevada vulnerabilidade do ecossistema marinho. Para além dos impactos socioambientais, trata-se de uma decisão tecnicamente injustificável do ponto de vista econômico. De acordo com estudo recente, até 85% da extração de petróleo planejada pela Petrobras pode não ser lucrativa em um cenário de aquecimento limitado a 1,5°C. Os projetos mais arriscados, como os localizados na Margem Equatorial, só trariam retorno financeiro se o mundo ultrapassasse 2,4°C de aumento da temperatura — uma condição incompatível com os objetivos do Acordo de Paris. Em outras palavras, esses empreendimentos só seriam economicamente viáveis em um cenário de colapso climático. Além disso, o leilão confronta diretamente os compromissos assumidos por todos os países, inclusive o Brasil, no Balanço Global do Acordo de Paris (Global Stocktake), que estabelece, no artigo 28(c), a necessidade urgente de avançar para uma transição energética que vá além dos combustíveis fósseis. Essa orientação global é reforçada por recomendações técnicas de referência, como as da Agência Internacional de Energia (IEA). O discurso de que a exploração petrolífera traria desenvolvimento sustentável para comunidades costeiras também não se sustenta. A indústria do petróleo gera poucos empregos diretos, concentrando seus benefícios em segmentos específicos e frequentemente distantes das regiões impactadas. Já o potencial da Amazônia e do litoral norte do país reside em caminhos alternativos: investimento em bioeconomia, energias renováveis e infraestrutura verde, com geração de renda, inclusão social e valorização dos saberes tradicionais locais. A situação se torna ainda mais preocupante diante da possível aprovação da chamada Licença Ambiental Especial, prevista no PL 2159/2021 — o “PL da destruição”. Essa medida poderia tornar todo o processo de licenciamento da exploração na margem equatorial passível de um trâmite simplificado, enfraquecendo ainda mais os mecanismos de proteção ambiental e ampliando os riscos de danos irreversíveis. Vale lembrar que o Brasil já possui reservas de petróleo suficientes para atender à sua demanda interna para uma transição energética gradual. A insistência em abrir novas fronteiras exploratórias nos prende a um modelo fóssil ultrapassado, dificultando o avanço rumo a uma economia limpa e resiliente. A crise climática exige decisões corajosas e políticas públicas que apontem para o futuro, não para o passado. A Petrobras, como empresa estratégica e com vasta capacidade técnica, tem um papel decisivo a cumprir neste processo. Espera-se que ela seja protagonista na construção de soluções sustentáveis, e não agente de retrocessos. Apostar em novos blocos de petróleo não apenas ameaça o meio ambiente e a segurança climática, mas também compromete a credibilidade internacional do Brasil, especialmente às vésperas da COP30, que será realizada no coração da Amazônia. O futuro do Brasil não está na perpetuação da economia do petróleo, mas sim na corajosa e determinada transição para um modelo econômico resiliente, diversificado e, acima de tudo, sustentável. Veja tudo de ” Margem Equatorial: Leilão de petróleo é um passo na contramão de um futuro sustentável ” em: Portal Energia Limpa. Compartilhe isso: Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela) Facebook Clique para compartilhar no X(abre em nova janela) 18+ Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela) WhatsApp Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela) Telegram Mais Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela) LinkedIn Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela) Tumblr Clique para imprimir(abre em nova janela) Imprimir Relacionado