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Fintechs, Crime Organizado e o Papel do Compliance

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As fintechs, instituições de pagamento e provedores de serviços de pagamento revolucionaram a inclusão e reduziram custos.

As fintechs, instituições de pagamento e provedores de serviços de pagamento revolucionaram a inclusão e reduziram custos.

No último mês, uma investigação da Polícia Federal (PF) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) apurou que, entre agosto de 2024 e agosto de 2025, sete instituições de pagamento (IPs) movimentaram R$ 94 bilhões, a maior parte em operações atípicas ou suspeitas de ligação com o crime organizado. Essa operação colocou as fintechs sob escrutínio, levando a um endurecimento das regras pelo Banco Central.

No mesmo período, grupos de hackers atacaram bancos e instituições de pagamento usando fintechs e o Pix, furtando pelo menos R$ 1,8 bilhão. Os hackers exploraram vulnerabilidades do sistema ou subornaram funcionários para acessar senhas de empresas de tecnologia que fornecem serviços para conectar bancos e instituições de pagamento ao sistema Pix.

Em resposta, o Banco Central limitou em R$ 15 mil o valor de TED e Pix para instituições de pagamento não autorizadas e para as que se conectam à Rede do Sistema Financeiro Nacional via Prestadores de Serviços de Tecnologia da Informação (PSTI).

Nos últimos anos, as fintechs, instituições de pagamento e provedores de serviços de pagamento instantâneo revolucionaram a inclusão e reduziram custos para consumidores e empresas. No entanto, a mesma agilidade que permite transferências em segundos e a popularização de carteiras digitais também abriram espaço para novas formas de ocultação de recursos ilícitos, já que o crime organizado está sempre em busca de novas oportunidades.

O crime organizado tem utilizado fintechs e micropagamentos para pulverizar valores, fragmentar fluxos e aumentar a complexidade do rastreamento, ampliando as vulnerabilidades já observadas nos off-ramps (serviço que permite converter criptoativos em moeda fiduciária, como reais, dólares ou euros) de criptoativos.

O país que virou laboratório

O Brasil se tornou um dos maiores laboratórios de inovação financeira do mundo. Os maiores IPOs de empresas brasileiras nos EUA na última década foram de três fintechs. Segundo o Banco Central do Brasil (2023), mais de 1.200 fintechs operavam no país, cobrindo serviços de crédito, pagamento, investimento e seguros.

O Pix, lançado em 2020, consolidou-se como ferramenta central desse ecossistema, registrando mais de 42 bilhões de transações em 2023, equivalentes a quase um terço de todas as operações de varejo. Esse crescimento é positivo para a inclusão financeira, mas gera desafios para os supervisores.

A velocidade das transações e a pulverização em milhões de contas digitais criam oportunidades para práticas típicas de lavagem de dinheiro, e é por isso que as regras do Pix estão se tornando mais rígidas para as Instituições de Pagamento (IPs).

Essa regulamentação é necessária para coibir e desestimular atividades ilícitas, sem engessar a inovação. O ecossistema de fintechs ainda está em seus primeiros momentos, e a maior parte das falhas de compliance se deve à pouca experiência dos novos atores.

Essas empresas são pequenas em comparação com os bancos. A maior fintech do Brasil, o Nubank, tinha 5 milhões de clientes em 2018, enquanto o Itaú contava com 70 milhões.

Atualmente, a maior fintech brasileira possui 107 milhões de clientes no Brasil e cerca de 119 milhões de clientes no total de países onde atua, com um valor de mercado de US$ 72,1 bilhões, superando o Itaú, que possui um valor de mercado de US$ 68,52 bilhões. Essa fintech, criada em 2013, ultrapassou o gigante Itaú em valor de mercado em apenas 12 anos.

Boa parte das fintechs ainda opera no vermelho, e apenas 20% faturam acima de 10 milhões de reais por ano. O maior desafio das fintechs é conquistar a confiança das pessoas, assim como Google, Amazon, Facebook e Apple fizeram no início de suas atividades, o que amplia a necessidade do aprimoramento das regras de compliance e a ampliação da transparência nos seus números.

Como toda inovação, a revolução financeira é descentralizada e acontece de forma imprevisível.

Para ser uma instituição financeira, é necessário seguir uma infinidade de regras que garantam a segurança do sistema. As fintechs ainda não são bancos, mas os bancos estão abertos a inovações. Os bancos estão em constante transformação.

Nas companhias bancárias tradicionais, há a percepção de que muito precisa ser feito: apenas um quarto das instituições financeiras acredita estar em um processo avançado de transformação.

Desde 2016, o celular é o meio favorito dos brasileiros para fazer transações financeiras, o que implica na redução do número de agências bancárias, representando uma grande oportunidade para as fintechs, que precisam investir muito na segurança e transparência de suas operações.

Grande ataque hacker

Em dezembro de 2024, surgiu o primeiro grande ataque hacker explorando vulnerabilidades de empresas de tecnologia que ligavam instituições de pagamento ao Pix. O último aconteceu no dia 29 de agosto e envolveu a infraestrutura da Sinqia, outra PSTI, desviando até R$ 710 milhões.

Desse total, R$ 589 milhões foram bloqueados com sucesso pelo Banco Central. Ao todo, foram desviados R$ 669 milhões das contas do banco HSBC e R$ 41 milhões da Artta, uma sociedade de crédito direto.

A Inteligência Artificial (IA) deve ampliar a sua presença nesse processo de compliance, visto que a gestão de riscos é uma área crucial nas finanças. Utilizando algoritmos avançados, as instituições financeiras podem identificar e mitigar riscos de forma mais eficiente.

Isso inclui a detecção de fraudes, a análise de crédito e a avaliação de riscos de mercado.

A detecção de fraudes é uma das áreas onde a IA tem mostrado um impacto significativo. Algoritmos de aprendizado de máquina podem analisar transações em tempo real e identificar atividades suspeitas com alta precisão.

Esses modelos são treinados para reconhecer padrões que indicam fraude, permitindo que as instituições financeiras tomem medidas preventivas rapidamente. A IA também está transformando a análise de crédito. Algoritmos de aprendizado de máquina podem avaliar a solvência de empresas e indivíduos com maior precisão do que os métodos tradicionais.

Esses modelos consideram uma ampla gama de fatores, incluindo histórico de crédito, comportamento de pagamento e até mesmo dados de mídias sociais, para determinar a probabilidade de inadimplência. A IA pode ajudar a mitigar os riscos de mercado através da análise de grandes volumes de dados de mercado e a identificação de tendências e anomalias.

Por exemplo, modelos de aprendizado profundo podem ser utilizados para prever a volatilidade do mercado e ajustar as estratégias de investimento de acordo. Existem várias ferramentas e técnicas de IA que podem ser utilizadas para gestão de riscos, incluindo: Análise Preditiva, Processamento de Linguagem Natural (NLP) e Redes Bayesianas.

Diversas instituições financeiras têm utilizado IA com sucesso para gestão de riscos. Por exemplo, o JPMorgan Chase utiliza algoritmos de aprendizado de máquina para detectar fraudes em transações de cartão de crédito.

É fundamental separarmos o joio do trigo, pois novas instituições sem o amadurecimento das suas regras e procedimentos de compliance tendem a ficar de fora desse jogo, onde o risco é gigante para todas as partes.

Visão Geral

As fintechs trouxeram inovação e inclusão financeira, mas também desafios relacionados a crimes financeiros e segurança. A regulamentação e o uso de tecnologias como a IA são cruciais para equilibrar inovação e segurança no setor financeiro.

Créditos: Charles Machado

Veja tudo de ” Fintechs, Crime Organizado e o Papel do Compliance ” em: Portal Energia Limpa.

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