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Críticas de Especialista Acentuam a Necessidade de Atualização no Planejamento Energético Brasileiro para Leilão de Baterias

O debate sobre o modelo do primeiro leilão de baterias evidencia a urgência de reformular o planejamento energético nacional.

O setor elétrico brasileiro discute o desenho do primeiro leilão de baterias de grande porte, enquanto figuras como o senador Braga alertam que o modelo proposto é insuficiente e expõe a obsolescência do planejamento energético brasileiro, demandando uma reformulação urgente da metodologia.

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A Crítica ao Modelo: Volume Insuficiente e Remuneração Incerta no Leilão de Baterias

A principal objeção levantada por Braga e compartilhada por grandes *players* do mercado reside no escopo e na estrutura de remuneração do leilão de baterias que está sendo desenhado. Embora o MME tenha sinalizado a intenção de contratar uma capacidade significativa, possivelmente na casa dos 2 GW, a metodologia de contratação é o ponto nevrálgico.

O armazenamento de energia, especialmente via BESS (*Battery Energy Storage Systems*), possui funções múltiplas: garantia de potência, deslocamento de energia (arbitragem) e serviços ancilares (controle de frequência e tensão). Se o modelo de leilão focar apenas no deslocamento de energia, o valor total do ativo para a rede será subaproveitado, tornando os investimentos menos atrativos.

A capacidade firme, ou seja, a disponibilidade da bateria para injetar potência na rede em momentos de pico, é o que o SIN (Sistema Interligado Nacional) mais precisa para lidar com a intermitência. Braga argumenta que o modelo deve ser claro na remuneração dessa capacidade de forma desagregada, reconhecendo o valor do *storage* como um ativo de resiliência e não apenas como uma fonte de geração de energia secundária.

O Grito por Atualização: Planejamento Energético Brasileiro Obsoleto

A crítica mais contundente de Braga é direcionada ao coração da governança energética: a urgência em atualizar o planejamento energético brasileiro. O Plano Nacional de Energia (PNE) e os Planos Decenais de Expansão de Energia (PDE) ainda se apoiam em metodologias desenvolvidas na era da predominância hidrelétrica.

Esses modelos não conseguem precificar adequadamente o valor da flexibilidade e da capacidade de resposta rápida oferecidas pelo armazenamento de energia. O senador cobra uma revisão completa da metodologia da EPE para incorporar variáveis como a *curva de despacho* de fontes renováveis e a necessidade de investimentos em *smart grids* e digitalização, essenciais para integrar o *storage*.

A expansão da energia renovável (eólica e solar) ultrapassou a velocidade do planejamento. O Brasil adiciona gigawatts de forma intermitente, e o planejamento energético brasileiro precisa refletir a necessidade de balanceamento em tempo real, um serviço que as baterias entregam com maestria. A falta dessa visão macro pode levar a subsídios desnecessários ou ao *overshoot* de contratação.

Risco para o SIN: A Intermitência Não Espera

A intermitência da energia eólica e solar já é uma realidade na operação do SIN (Sistema Interligado Nacional). O ONS (Operador Nacional do Sistema) tem trabalhado arduamente para gerenciar os picos e os vales de geração de energia. No entanto, a ausência de um volume significativo de armazenamento de energia contratado sob um modelo de leilão robusto aumenta a dependência de termelétricas inflexíveis.

O planejamento energético brasileiro precisa determinar de forma científica e transparente a quantidade exata de capacidade de armazenamento necessária para cada região, especialmente no Nordeste, onde a energia renovável domina. Se o leilão de baterias falhar em atrair investimentos suficientes ou no local correto, o risco de congestionamentos na transmissão e de cortes no despacho de energia limpa aumenta.

O *storage* é a ponte entre a energia limpa e a estabilidade. Um modelo de leilão mal concebido, na visão de Braga, simplesmente não conseguirá entregar a segurança energética que a Transição Energética exige do país.

O Efeito Cascata no Investimento e na Tarifa

A crítica de Braga não é apenas técnica, mas também econômica. A falta de um planejamento energético brasileiro atualizado gera incerteza regulatória, o maior inimigo dos investimentos de longo prazo. O custo de capital para financiar projetos de armazenamento de energia pode ser artificialmente inflacionado por essa incerteza.

O setor financeiro exige clareza sobre como os ativos de baterias serão remunerados e qual será sua vida útil econômica sob o modelo de leilão. Se a remuneração for incerta ou subdimensionada, os *players* poderão se afastar, ou exigir um *premium* de risco que será inevitavelmente repassado à tarifa de energia do consumidor final.

Acelerar o leilão de baterias com um modelo de leilão falho, apenas para “marcar ponto”, seria um erro estratégico caro. O ideal, como sugere o senador, é investir na base do planejamento para que os investimentos fluam de forma otimizada e competitiva, garantindo o custo mais baixo para a energia limpa.

A Lição Internacional: Modelos de Capacidade e Serviço

Braga aponta para a experiência internacional, onde o armazenamento de energia é contratado por meio de leilões específicos de capacidade e serviços ancilares. Mercados como o dos Estados Unidos (PJM) e Austrália remuneram o *storage* pela velocidade de resposta (milissegundos), e não apenas pelo volume de energia.

Um modelo de leilão que reconheça as múltiplas funcionalidades das baterias atrairá a tecnologia mais avançada e garantirá o uso mais eficiente dos recursos. O planejamento energético brasileiro precisa abandonar a visão binária (geração ou consumo) e abraçar o conceito de *ativo de rede flexível*. Essa é a essência da modernização que o senador demanda.

A urgência de Braga reside em evitar que o Brasil, líder mundial em energia renovável, adote um sistema de contratação de armazenamento de energia de segunda linha, comprometendo a Transição Energética e a segurança do SIN (Sistema Interligado Nacional).

Visão Geral

A crítica de Braga ao modelo de leilão de baterias e sua cobrança por uma atualização urgente do planejamento energético brasileiro coloca o dedo na ferida do setor elétrico. O Brasil está prestes a integrar uma tecnologia transformadora, mas corre o risco de fazê-lo com ferramentas regulatórias e de planejamento defasadas.

A realização do leilão de baterias em 2025 é crucial, mas a sua eficácia dependerá da qualidade do seu modelo. O planejamento energético brasileiro não pode mais ignorar a complexidade da intermitência e o valor da flexibilidade. A reforma na metodologia de planejamento da EPE é a verdadeira chave para garantir que os investimentos em armazenamento de energia sejam o motor, e não o gargalo, da próxima fase da Transição Energética no país. O mercado aguarda as ações do MME para responder a essa cobrança legítima.

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