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Carvão dos EUA é a chance do Brasil liderar a Transição Energética

Por Fernando Beltrame

Recentemente, o presidente Donald Trump assinou um decreto que promete “encerrar a guerra contra o carvão”. Em pleno 2025, ano da realização da COP30 no Brasil, essa declaração soa como um passo na contramão da urgência climática global. Mas, para além da perplexidade inicial, esse gesto merece uma análise mais profunda.

A defesa do carvão — mesmo sob o argumento de “soberania energética” ou “proteção de empregos locais” — ignora o consenso científico, econômico e financeiro que se consolidou nos últimos anos: o futuro da energia é limpa, descentralizado e baseado em fontes renováveis. Reforçar a utilização de uma das fontes mais poluentes do planeta, ainda mais vindo da maior economia do planeta, representa um retrocesso com implicações não apenas ambientais, mas também políticas e simbólicas.

Para quem atua no campo da sustentabilidade, essa movimentação é especialmente preocupante. Ela desafia diretamente os esforços globais de descarbonização e justiça climática. O carvão é a fonte de energia que mais emite gases de efeito estufa, contribuindo significativamente para o aquecimento global. O sinal enviado por Trump, portanto, enfraquece a confiança no compromisso climático das grandes potências e pode influenciar negativamente outros países.

No entanto, esse desvio político também abre uma janela de oportunidade. Investidores institucionais e fundos de impacto que, nos últimos anos, vinham direcionando recursos para projetos de energia limpa nos Estados Unidos, estimulados pela previsibilidade regulatória da gestão Biden, agora podem redirecionar seu capital para mercados emergentes mais comprometidos com a transição energética.

E o Brasil se apresenta como uma alternativa estratégica nesse novo contexto. Com um enorme potencial em energia solar, eólica, biomassa e hidrogênio verde, temos todos os ingredientes para assumir protagonismo global. Para isso, é essencial oferecer um ambiente regulatório estável, políticas públicas claras e, principalmente, uma visão de longo prazo que alinhe os setores público e privado rumo à economia de baixo carbono.

Neste cenário, o papel de quem trabalha com sustentabilidade é também o de tradutor: precisamos explicar para a sociedade, para empresários e para os tomadores de decisão que um decreto presidencial não muda os rumos do planeta. A ciência já venceu o debate técnico. O que está em jogo agora é o compromisso político e a coerência nas escolhas que faremos enquanto nação.

Como anfitrião da COP30, o Brasil tem uma oportunidade histórica. Podemos mostrar ao mundo que liderar a transição energética é possível, viável e desejável. Fortalecer os compromissos climáticos, investir no mercado de carbono, regulado e voluntário, proteger nossas florestas e biodiversidade, e construir alianças com os que compartilham dessa visão de futuro são passos essenciais.

A transição energética é irreversível. Quem tentar freá-la será, inevitavelmente, superado pelo tempo e pelo mercado.

Fernando Beltrame é mestre pela USP, engenheiro pela Unicamp e CEO da Eccaplan. Com mais de 20 anos de experiência em projetos de consultoria, sustentabilidade e estratégia Net Zero, já atuou em diferentes eventos e iniciativas como a COP18, Rio+20 e fóruns mundiais.

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