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BR-319 é bomba-relógio que põe em xeque metas climáticas do Brasil

Novo estudo publicado nesta quarta-feira (17) mostra que o surgimento de vias planejadas e ilegais com a obra da rodovia pode desmatar 5,78 milhões de hectares até 2070 e inviabilizar metas do Acordo de Paris.

A reconstrução da BR-319, entre Manaus e Porto Velho, que prevê cruzar o último grande bloco contínuo de floresta da Amazônia brasileira, pode colocar em risco a agenda climática que o Brasil levará à COP30, em Belém. Cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) apontam, em um novo estudo publicado nesta quarta-feira (17) na revista científica Regional Environmental Change, que a abertura de novas vias a partir da rodovia, caso a obra seja realizada, poderá provocar o desmatamento de 5,78 milhões de hectares (ha) até 2070 —uma área maior que a da Suíça (4,1 milhões ha) ou da Dinamarca (4,2 milhões ha).

Cenários do desmatamento com e sem a BR-319

O estudo analisou dois cenários, um com a BR-319 recuperada, onde o desmatamento cresce rapidamente com a abertura de novas estradas planejadas, como a AM-366, e com o surgimento de vias ilegais, conhecidas como ramais, e que ligam o eixo da rodovia a áreas preservadas da floresta. Já no cenário sem a recuperação da 319, o desmatamento na região se mantém estável.

Impactos da BR-319 na Amazônia e clima

Segundo os pesquisadores, a rodovia, com cerca de 885 km de extensão, ameaça a sobrevivência do bioma, com possíveis impactos em populações tradicionais, na fauna, na flora e nos grandes estoques de carbono, podendo influenciar até mesmo no regime de chuvas que irriga a agricultura no Centro-Oeste e no Sudeste.

“Com a BR-319, tudo indica que o país terá dificuldade para cumprir a meta de desmatamento zero”, diz Aurora Miho Yanai, engenheira florestal e pesquisadora do Inpa, autora principal do estudo.

História da BR-319 e planos de reconstrução

A BR-319 foi construída em 1976, durante o processo de ocupação da Amazônia brasileira na Ditadura Militar, mas acabou abandonada no início da década de 1990 por falta de viabilidade econômica.

Na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), o projeto de reconstrução da rodovia foi anunciado como uma das prioridades do seu governo, mobilizando setores como agronegócio, mineração, madeireiras e até o setor de petróleo e gás. O plano é conectar as áreas produtoras aos portos do Arco Norte, que escoa grãos do Centro-Oeste pelos rios Madeira, Tapajós e Amazonas, uma alternativa aos portos de Santos e Paranaguá.

Análise e previsões de desmatamento

Os autores do estudo analisaram o desmatamento histórico na área de influência da rodovia para fazer as previsões, considerando padrões já observados para o avanço de propriedades e aberturas de ramais.

Os cientistas desenvolveram um modelo de previsão que utilizou dados históricos do desmatamento no entorno da BR-319, incluindo informações sobre os imóveis rurais e os padrões de ocupação já identificados nesta região. O estudo também indica que antes mesmo da abertura das vias planejadas já existe aumento do desmatamento, levando a devastação para longe das estradas pricipais.

Essa tendência já havia sido identificada durante o governo de Bolsonaro, após o anúncio da obra. Em 2022, mais de 46 mil hectares de desmatamento foram registrados na área de influência da rodovia, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) analisados pela InfoAmazonia.

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