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Análise do Recorde de Curtailment da Eneva e Implicações para a Geração Solar Brasileira

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Atingindo 185 GWh, o recorde de curtailment da Eneva sinaliza urgência na modernização da infraestrutura de transmissão no setor elétrico brasileiro.

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185 GWh: O Preço da Ineficiência

O termo curtailment refere-se à interrupção ou limitação forçada da geração de energia de usinas renováveis, geralmente devido a restrições na rede de transmissão. No caso do parque solar Futura 1 da Eneva, localizado na Bahia, o problema é crônico e atingiu o ponto de inflexão.

Os 185 GWh desperdiçados refletem a incapacidade da rede local de absorver a totalidade da produção do complexo. Com 692 MW de potência instalada (DC), o parque solar é um gigante que está sendo obrigado a trabalhar com o freio de mão puxado, sobretudo nas horas de pico de irradiação solar.

Em uma escala nacional, o cenário é ainda mais sombrio. Estudos recentes indicam que as perdas por curtailment de energia solar e eólica cresceram mais de 230% em 2025, somando prejuízos que já ultrapassam R$ 3,2 bilhões ao longo do ano para o setor elétrico.

Esse desperdício de energia limpa tem reflexos diretos no Custo Marginal de Operação (CMO) e na segurança da entrega contratada, forçando o Sistema Interligado Nacional (SIN) a buscar fontes mais caras e poluentes para compensar a energia que foi inutilmente produzida pela Eneva e outras geradoras.

Gargalo de Transmissão: O Velho Antagonista

A causa primária do curtailment em empreendimentos como o Complexo Solar Futura 1 é a descoordenação entre o ritmo acelerado da geração renovável e a lentidão da expansão da transmissão.

O Nordeste, onde a Eneva e outras empresas investem pesadamente em energia solar e eólica devido aos excelentes recursos naturais, tornou-se o epicentro desses gargalos. A malha de transmissão simplesmente não evoluiu na mesma velocidade dos leilões de energia limpa realizados pela ANEEL e pelo MME.

O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) é quem determina os cortes de curtailment para manter a estabilidade da rede. Sem capacidade de escoamento suficiente, o sistema se protege limitando a injeção de energia solar e eólica, mesmo que isso signifique o desperdício de milhões em GWh.

A Eneva, assim como outras geradoras, possui contratos de longo prazo (PPAs) que garantem a venda de sua energia. Quando o curtailment atinge níveis como 185 GWh, a empresa sofre a perda de receita, o que, a longo prazo, afeta a atratividade do parque solar para investimentos futuros.

O Imperativo do Armazenamento de Energia

A solução para mitigar o recorde de curtailment e evitar que perdas como os 185 GWh se repitam passa necessariamente pelo armazenamento de energia. Sistemas de Baterias (BESS) representam a ferramenta ideal para desacoplar a geração da energia solar do consumo imediato e das restrições da transmissão.

Ao instalar BESS junto ao parque solar Futura 1, a Eneva poderia armazenar a energia excedente produzida nas horas de pico do sol e injetá-la na rede em momentos de menor produção ou em períodos noturnos, quando a demanda do setor elétrico é alta e os preços, mais caros.

Esta estratégia não apenas recupera a receita perdida pelo curtailment como também oferece serviços ancilares vitais à estabilidade do SIN. O armazenamento de energia atua como uma ponte, tornando a geração renovável mais despachável e diminuindo a pressão sobre as linhas de transmissão saturadas.

O mercado já reconhece esse potencial. Como apontado por diversos estudos setoriais, a inclusão de armazenamento de energia pode gerar uma economia sistêmica de bilhões ao evitar o despacho de térmicas caras e postergar obras de transmissão de alto custo.

O Papel da Eneva e o Risco para Investidores

A Eneva tem sido uma das empresas mais ativas no mercado de energia, combinando térmica a gás natural com o desenvolvimento de parques solares. O caso do Futura 1 expõe a vulnerabilidade da melhor energia limpa do país quando confrontada com a fragilidade da infraestrutura.

Para a Eneva, o desafio é estratégico: como garantir a plena operação de um ativo com contrato de longo prazo sem a garantia de escoamento total? A resposta exige não só a busca por soluções tecnológicas, como o armazenamento, mas também uma intensa articulação regulatória.

Para o setor elétrico e os investidores em geral, o recorde de 185 GWh funciona como um novo fator de risco. Taxas de curtailment tão elevadas minam a confiança na previsibilidade dos fluxos de caixa e encarecem o capital para novos projetos de energia solar.

O governo e a ANEEL precisam agir rapidamente para criar os mecanismos de remuneração adequados para o armazenamento de energia e para priorizar a expansão das linhas de transmissão em áreas críticas. O custo de 185 GWh perdidos é um fardo pesado demais para ser ignorado.

A falha em resolver o problema do curtailment transforma a energia solar, que deveria ser o pilar da transição energética, em uma fonte de instabilidade financeira. O setor elétrico tem a tecnologia e o recurso natural; falta a infraestrutura de rede para conectar o potencial do sol à realidade do consumidor.

Visão Geral

O curtailment recorde de 185 GWh na Eneva evidencia que a expansão da energia solar no Brasil supera a capacidade da rede de transmissão. Este descompasso ameaça a viabilidade econômica de projetos de geração renovável e exige investimentos urgentes em infraestrutura e em armazenamento de energia para proteger o futuro da transição energética nacional, um fator crucial para a confiança dos investidores no setor elétrico.

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