O setor elétrico confirma que a capacidade instalada de solar e eólica excede o aumento anual da demanda mundial por eletricidade.

Conteúdo

• O Ponto de Virada e a Matemática da Expansão
• O Fator Energia Solar A Escalabilidade Inigualável
• A Contribuição Estrutural da Eólica
• O Novo Desafio A Rede e o Armazenamento de Energia
• Implicações para o Mercado e a Sustentabilidade Financeira
• Visão Geral

O setor elétrico mundial atingiu um marco que, até poucos anos, parecia um sonho otimista: a capacidade instalada anualmente adicionada por fontes de energia solar e eólica é, consistentemente, superior ao crescimento total da demanda global por eletricidade. Este não é apenas um feito estatístico; é o ponto de virada definitivo na Transição Energética, provando que as energias renováveis não são mais alternativas, mas sim a principal e mais competitiva força motriz da matriz global.

Para os profissionais que lidam diariamente com geração, transmissão e economia de energia, essa realidade impõe uma redefinição urgente de planejamento. O problema da capacidade instalada está sendo resolvido. O novo desafio é a integração, o armazenamento de energia e a modernização da rede para suportar a volatilidade de um sistema dominado por fontes intermitentes. A revolução está na rede, e não mais apenas nos painéis e nas turbinas.

O Ponto de Virada e a Matemática da Expansão

Segundo relatórios recentes da Agência Internacional de Energia (IEA) e da BloombergNEF, a expansão combinada da energia solar fotovoltaica e da eólica alcançou um volume colossal, impulsionada principalmente pela queda radical dos custos da energia solar — a fonte mais barata de eletricidade já inventada.

A matemática é simples, mas poderosa: o crescimento líquido da demanda por eletricidade global, impulsionado por eletrificação do transporte, industrialização e aquecimento, é atualmente superado pela nova capacidade instalada renovável. Enquanto a demanda cresce em ritmo constante (cerca de 2% a 3% ao ano), a geração eólica e, sobretudo, a solar crescem a taxas de 15% a 25% anualmente.

Este hiato positivo significa que o novo consumo energético mundial pode ser totalmente suprido por energia limpa. Em outras palavras, para que a demanda geral do sistema comece a exigir a ativação de mais combustíveis fósseis, o crescimento da demanda por eletricidade teria que acelerar dramaticamente, ou o investimento em renováveis teria que estagnar. Nenhuma dessas hipóteses é provável no curto prazo.

O Fator Energia Solar A Escalabilidade Inigualável

A hegemonia da energia solar é o motor dessa transformação. A China e os Estados Unidos lideram a instalação, beneficiados por políticas públicas agressivas de incentivo e subsídios, que inundaram o mercado global com painéis de baixo preço. Esse efeito de escala reduziu o custo da energia solar em mais de 90% na última década.

A solar oferece uma escalabilidade única. Pode ser instalada em escala de geração centralizada (grandes fazendas) ou em geração distribuída (telhados), permitindo uma rápida penetração em todos os níveis do setor elétrico. Essa flexibilidade é vital para suprir a demanda por eletricidade crescente em mercados emergentes, onde a construção de grandes usinas e linhas de transmissão é lenta e cara.

Os investimentos globais em energia solar já ultrapassam, e muito, o investimento em todas as fontes de combustíveis fósseis combinadas para a geração de eletricidade. Essa disparidade financeira consolida a superioridade da energia limpa como a aposta mais segura e competitiva para o futuro.

A Contribuição Estrutural da Eólica

Enquanto a energia solar domina a taxa de crescimento da capacidade instalada, a eólica onshore e, cada vez mais, a offshore, oferecem uma energia mais estável e previsível, especialmente em regiões com regimes de vento favoráveis (como o Nordeste brasileiro). A eólica complementa a solar ao frequentemente gerar eletricidade fora do pico solar, como durante a noite.

A eólica tem visto avanços tecnológicos significativos, com turbinas maiores e mais eficientes, capazes de capturar energia em regimes de vento mais baixos. Essa inovação melhora o fator de capacidade das usinas, tornando-as mais produtivas e, consequentemente, mais competitivas em leilões de energia.

A combinação sinérgica de solar (rápida e barata) e eólica (firme e produtiva) é a dupla que tem conseguido não apenas suprir o crescimento da demanda, mas também começar a desbancar o carvão e, em breve, o gás natural nos mercados desenvolvidos.

O Novo Desafio A Rede e o Armazenamento de Energia

O sucesso da geração renovável traz um problema de rico: a intermitência. Se a capacidade instalada está crescendo mais rápido que a demanda por eletricidade, o foco regulatório e de investimento precisa migrar da geração para a integração.

O setor elétrico precisa agora de:

1. Transmissão Robusta: Linhas de transmissão mais inteligentes e com maior capacidade para levar a energia dos polos de geração (muitas vezes distantes) para os centros de consumo.
2. Armazenamento de Energia: O avanço em soluções de baterias de longa duração (LDS) é crucial para transformar a energia solar e eólica intermitente em energia firme e despachável 24/7.
3. Flexibilidade e Smart Grids: Redes inteligentes que consigam gerenciar a volatilidade do sistema em tempo real, utilizando soluções tecnológicas como a resposta de demanda e sistemas de medição avançados.

No Brasil, esse desafio é exacerbado pela necessidade de proteger a segurança do sistema durante períodos de baixa geração hidrelétrica, tornando o armazenamento de energia e a geração térmica de reserva de capacidade ainda mais estratégicos.

Implicações para o Mercado e a Sustentabilidade Financeira

A competitividade das energias renováveis está reescrevendo o manual de investimento do setor elétrico. O capital ESG (Environmental, Social, and Governance) está migrando em massa para projetos de energia limpa, enquanto o financiamento para combustíveis fósseis se torna mais caro e escasso.

Para os *players* de comercialização e gestão de risco, o cenário é de maior previsibilidade de preço do MWh no longo prazo, desde que as políticas de transmissão e armazenamento acompanhem a geração. O mercado se tornará cada vez mais sensível aos fatores climáticos e à eficiência da rede.

A confirmação de que solar e eólica podem suprir o crescimento da demanda global por eletricidade não é apenas uma vitória ambiental, mas um triunfo econômico. Significa que os países podem crescer e se industrializar sem aumentar a emissão de gases de efeito estufa provenientes do setor elétrico.

Visão Geral

A Transição Energética deixou de ser um horizonte distante e se tornou a realidade operacional do setor elétrico. O fato de que solar e eólica já suprem a demanda global por eletricidade é o atestado de óbvio econômico dos combustíveis fósseis na geração.

O foco agora deve se concentrar na resiliência e na eficiência da infraestrutura. A próxima década será definida pela inovação na rede e no armazenamento de energia. O sucesso do setor elétrico não será medido pela quantidade de painéis e turbinas instaladas, mas sim pela capacidade de entregar essa imensa energia limpa com confiabilidade, segurança e a custos baixos para o consumidor final, consolidando a sustentabilidade da matriz global.

Veja tudo de ” A Conquista Silenciosa Solar e Eólica Já Superam o Crescimento da Demanda Global por Eletricidade ” em: Portal Energia Limpa.